O que está por trás da traição?

O olhar da constelação familiar para as traições conjugais

Antes de mais nada, gosto sempre de lembrar que, quando falo em entender algumas dinâmicas sistêmicas, quero dizer, olhar o tema de um lugar inconsciente dentro da sua alma. Vamos sair um pouco das ideias do EU, e mergulhar no nosso ser mais profundo.

Outro ponto que quero salientar é que existem inúmeras dinâmicas que atuam dentro das traições. Aqui quero compartilhar algo mais abrangente, que se encaixe de forma geral. Porém, é sempre importante investigar de perto através de uma constelação familiar qual é o caso.

Vamos lembrar um conceito chave das constelações familiares que irá ajudar a entender as dinâmicas: Consciência Coletiva.

Todos nós temos um desejo inconsciente por pertencimento. Esse desejo, num primeiro momento, acontece dentro de nosso sistema familiar e posteriormente, nos demais sistemas que vamos fazer parte como: igreja, empresa, grupo de amigos, etc. Já reparou que para pertencer a esses grupos precisamos cumprir certas regras de comportamento? Mesmo que essas regras não sejam ditas, nosso comportamento muda quando estamos nesses grupos. A essa força chamamos Consciência Coletiva.

Pergunte-se: como era a relação de seus pais como casal? Sua mãe costumava falar mal de seu pai para você ou vice-versa? Um dos genitores abandonou a família por causa de um outro amor? Sempre houveram traições na relação de seus pais como casal? Você ficava sabendo disso? O que você cresceu ouvindo sobre relacionamento conjugal?

Certa vez atendi uma moça que estava casada, mas infeliz em seu casamento. O marido já não se interessava mais por ela, sexualmente falando, e então, conheceu um rapaz e começou a sair com ele. Embora ela tivesse apaixonada pelo rapaz, não conseguia terminar seu casamento. Além de se sentir muito culpada. A primeira coisa que ela falou quando chegou na constelação foi: “Me tornei igual a meu pai, ele traía minha mãe o tempo todo e eu sempre o recriminava por isso. Pior que além de eu continuar odiando meu pai, agora odeio a mim mesma.”

Lembro-me de outro caso, onde uma mulher era constantemente traída pelo marido, mas não conseguia terminar o casamento, apenas ficava com muita raiva a ponto de ter crises de ansiedade cada vez o marido pegava o celular. Ao investigar a relação dela com seus pais, qual era a dinâmica? Sua mãe também era constantemente traída por seu pai, que saía no meio da noite sempre que recebia uma ligação. Ele dizia que era do plantão do trabalho, mas todos sabiam que tratava de em encontro com outra mulher. Ela disse, durante a constelação, que a mãe dizia sempre que “homem é assim minha filha, temos que ter paciência”.

Nas constelações percebemos que quando crescemos diante de um modelo de relacionamento, como por exemplo, ver o pai trair a mãe muitas vezes, acreditamos de forma inconsciente, que as relações são assim, mesmo que tenhamos vontade de que seja diferente. A “regra” da consciência coletiva aqui é: Para continuar a pertencer ao seu sistema familiar, você precisa ser traída ou trair. E uma parte de sua alma, aquela que anseia por pertencimento, vai sacrificar a sua vontade de fazer diferente, para pertencer. É assim que funciona.

Outra pergunta importante a ser feita, caso haja traições na sua família: O quanto você julga, recrimina ou até odeia o traidor?

Essa pergunta é de extrema importância principalmente se o traidor for um genitor. Nas constelações vemos que quando excluímos alguém, a Consciência Coletiva, dá um jeito de encontrarmos alguém semelhante, ou nos tornarmos parecidos à pessoa excluída, como uma forma arcaica de inclusão. A Consciência Coletiva, não permite exclusões e enquanto você tiver pena da pessoa traída e julgar o traidor, é bem possível que você atraia situações semelhantes.

É muito interessante observar o quanto repetimos dinâmicas de nossos pais. Isso ocorre porque não aceitamos a nossa história como foi e não aceitamos os pais que temos. E pior, muitas vezes somos “chamados” para dentro da relação deles, o que prejudica ainda mais nossa autonomia emocional.

Quando isso ocorre, dizemos na constelação que nossa alma “não está disponível a um parceiro”. Quer dizer que, uma parte de mim quer se relacionar, ama, namora, mas outra parte, está presa na dinâmica parental (pelos motivos descritos acima).

Aqui ocorrem duas coisas, segundo Bert Hellinger. Primeiro: meu parceiro sente em sua alma, que, para mim, é mais importante pertencer à minha família do que fazer diferente e por isso me trai (lembra do desejo inconsciente por pertencimento que mencionei acima?) Segundo: Se eu não estou disponível a um parceiro e mesmo assim estou num relacionamento, a alma do meu parceiro sente minha ausência, e busca um terceiro elemento para preencher essa lacuna. O mesmo vale se eu sou a pessoa que trai.

A solução aqui seria você perceber que muitas coisas atuam numa relação de casal, e que ambos são adultos e portanto, devem assumir as responsabilidades pelas suas escolhas. Se sua mãe escolheu continuar na relação mesmo sendo traída, ela tem uma parte na responsabilidade dessa dor.

Quando você começa a curar sua história familiar, automaticamente, sua alma deixa de atrair triangulações. Na medida que você concorda com as histórias de sua família, agradece por tudo do jeito que foi. Quando você consegue olhar para seu pai como pai e não como o homem que trai, ou vice-versa, é possível deixar o passado para trás e seguir adiante, sem precisar repetir padrões.