Términos nunca são agradáveis e mesmo que o tenha desejado, sempre fica uma ponta de frustração, arrependimento, culpa, dor e confusão.
Quando entramos num relacionamento não pensamos em terminar, não é mesmo? Pelo contrário, se for bom, queremos que dure o tanto quanto for possível. Às vezes a pessoa que está ao nosso lado tem tanta afinidade conosco, que queremos constituir uma família, filhos. Fazemos planos para morar juntos, viajar juntos, envelhecer. É natural, digo mais, é sobrevivência. A espécie humana depende disso.
Porém o que não nos damos conta é que nesse caminhar ao lado de outra pessoa, muitas coisas podem acontecer. A vida é uma transformação constante, basta olhar em volta e perceber que tudo muda. Nós, como seres humanos, também mudamos. Nossos gostos, afinidades, desejos, sonhos também mudam. E em alguns momentos essas mudanças vão de encontro com o meu parceiro (a). De repente, nos tornamos muito diferentes de quando nos conhecemos, e enquanto para alguns casais as mudanças individuais apimentam e fazem o amor crescer, para outros, é o início do afastamento e do fim.
A vida é muito dinâmica, trazendo surpresas o tempo todo. Entre elas, pode trazer um amor do passado de volta, e você não querer mais continuar com seu parceiro (a) atual. Ou então pode ser que você conheça um novo amor, mesmo estando num relacionamento. Pode descobrir que seu parceiro (a) o está traindo, e como isso fere seus valores, é impossível continuar na relação. Ou então, você pode receber uma promoção do trabalho que te leva a morar em outro continente, e a relação acaba, porque ambos entendem que não dá para se relacionar à distância.
Muitas coisas podem levar ao fim de um relacionamento. A questão aqui é, e agora? Como fico?
Uma coisa é certa: não importa quem quis terminar, sentimentos de desconforto, geralmente deixa uma lembrança amarga em nós. E superar essa fase é imprescindível para que você não se feche para novos relacionamentos, e consiga viver uma vida feliz, agora ao lado de outra pessoa.
Raiva, tristeza, frustração, dor, culpa. Sentimentos que são desagradáveis e que fugimos o tempo todo para não sentir. Não nos ensinaram como lidar com as emoções, nem mesmo o que fazem quando sentimentos desconfortantes surgem em nosso peito. Mas isso não significa que eles não vão aparecer. Você pode até tentar jogá-los para debaixo do tapete com comportamentos “analgésicos”, anestesiando seu corpo com entorpecentes, comida, ou até um novo romance. Mas essa ferida vai permanecer aí dentro, e em algum momento, não tem jeito, ela vai doer.
Existem alguns estudos que mostram que áreas do cérebro responsável pela informação de dor física é ativado quando passamos por dor emocional. Porém, neste caso, não adianta ir até a farmácia buscar um analgésico, porque aqui o remédio é outro e é natural: Luto. O luto é extremamente importante para que seu cérebro e consequentemente sua saúde emocional, passe pelo processo de término de forma que não deixe danos.
Sempre que passamos por qualquer situação que remeta a término de ciclo: rupturas de relacionamento, perda de ente querido, perda de um emprego, mudança de casa, etc; precisamos dar um tempo para nós mesmos para que toda a química do nosso cérebro e nossa saúde emocional se recupere. E para isso acontecer, as fases do luto são importantes. Cada fase tem um tempo único para cada pessoa, dependendo da situação.
Quando você rompe um relacionamento a primeira coisa que vem à sua mente é Negação. A mente tenta encontrar uma forma de negar a situação, para que tudo continue como está e a dor não seja sentida. Nossa mente não gosta de mudanças. A negação surge de várias formas: “Não, ele não está me traindo”; “Ela está confusa, logo cai na real e descobre que sou seu amor”; “Foi só uma briga, logo tá tudo bem”. E por aí vai. Além de negar a situação, a negação serve para negar a existência de uma dor.
Depois que essa fase passa, ou ameniza, vem a fase da Raiva. Aqui você já entendeu que não tem volta e as frustrações começam a surgir. Tudo aquilo que foi guardado, que não foi dito, exposto, parece vir à tona agora. Você explode e lembra de tudo de “ruim” que tinha na relação. A raiva também é uma forma de esconder a dor. É comum as pessoas ficarem presas na raiva, não permitindo que a dor seja acessada, e pior: essa raiva pode ser direcionada para outras pessoas, como por exemplo, seu novo relacionamento.
A Barganha surge como terceira fase do luto, mostrando que a dor já está aí. E você começa a ver o que fez de errado, ou seja, procura culpados para a situação. Enquanto que, na fase anterior o culpado normalmente é o outro, aqui, essa culpa é direcionado à si mesmo. Nessa fase você pensa que “poderia ter feito assim ou assado” e começa a negociar consigo “se eu mudar, se eu fizer assim, tudo será diferente”. Aqui é uma fase perigosa, principalmente se você está em um relacionamento abusivo, pois a tendência de permanecer nele é grande.
A fase mais longa é a Depressão ou Tristeza pois é caracterizada por uma dor intensa. Além disso, nada mais pode ser feito aqui, e a vontade de se isolar é comum. Tudo parece sem graça. É outra fase complicada e que muitas pessoas não conseguem passar. Quando se está nessa fase, é comum lotar os consultórios médicos atrás de uma pílula que alivie a dor. Em alguns casos até pode ser benéfico, mas seria muito interessante buscar apoio de um terapeuta para que você aprenda a lidar com a dor ao invés de tentar anestesiá-la.
Por fim, a Aceitação é a última fase do luto. Aqui a pessoa tem uma visão mais realista do término. Sem culpados, apenas assumindo sua responsabilidade. A partir desse momento, seu cérebro e sua saúde emocional está restabelecida e um novo movimento pode iniciar. Você tem esperanças
e a dor dá lugar a serenidade.
É comum durante o luto, você viver mais de uma fase ao mesmo tempo, ou ter a sensação de retornar a alguma fase. O que importa aqui é que você permita viver a DOR. E esse é o ponto. Todas as fases do luto são mecanismos de sua mente para que você consiga, aos poucos, lidar com a dor. Entender o que passou, curar as feridas internas, crescer com tudo isso, e voltar a viver.
Portanto, quando interrompemos o luto, por qualquer motivo, não permitimos que nossa mente termine internamente o relacionamento. Lá fora, há anos que você não vê mais o ex, mas dentro de você parece que ele (a) tem morada eterna. Se isso acontece com você, perceba em qual fase você está? Raiva, Tristeza, Negação? Deixe que esses sentimentos do passado venham à tona. Permita-se viver alguns dias plenamente essa dor. Agora mais consciente, sabendo que ela tem fim. Viver a dor significa: sentir a dor. Nada de “analgésicos”.
Quando seguimos para um novo relacionamento e de repente começamos a perceber que as mesmas situações acontecem, ou, que, de alguma forma, você atrai pessoas semelhantes ao ex, isso pode ser um sinal da vida, dizendo que algo ainda não foi concluído dentro de você. E que até isso finalizar, tudo se repetirá, porque não se trata exatamente da pessoa em si, mas da experiência e do que foi aprendido com ela.
Para ajudar a passar pelo luto é importante ter em mente que muitas relações terminam, mesmo que não haja um culpado. Outras vezes uma relação termina, porque existem emaranhados sistêmicos na família de origem. Aqui não cabe procurar culpados, apenas reconhecer que a relação acabou. Reconhecer que um dia sonharam juntos e que a dor sentida agora advém da frustração desses sonhos. Sem esse reconhecimento, ficam atados um ao outro.
Quando existem filhos na relação, não deve deixar que eles se intrometam na relação. Nem deve ser incentivado que tomem partido, ou deem qualquer sugestão, pois caso contrário, eles ficarão perdidos, e isso gera uma grande desordem sistêmica. Ou seja, nesse sistema familiar, além do casal, os filhos estarão atados numa separação dolorosa, prejudicando a relação parental (os filhos com os pais).
“Quando um relacionamento se desfaz é uma dor muito profunda. Quando nos expomos a essa dor e permitimos que ela penetre em nosso coração, em nosso corpo e em nossa alma em toda a sua amargura e intensidade, então essa dor é, via de regra, breve, embora pareça interminável. Sem dúvida, depois que passamos por ela, a separação foi superada.” Bert Hellinger